DE SÃO PAULO
Um biomaterial desenvolvido por cientistas da Unesp, no interior de São Paulo, promete acabar, no futuro, com a necessidade de placas metálicas para as vítimas de lesões ósseas.
Eles criaram uma estrutura baseada em celulose. A ela são agregados colágeno (proteína que ajuda a sustentar os ossos) e moléculas especializadas em promover o crescimento ósseo. O "curativo", portanto, estimula o osso a se recuperar rápido.
A eficiência da estrutura foi testada em ratos. Com uma broca, os cientistas abriam um furo no fêmur dos animais. Preenchiam, então, a área danificada com o biomaterial, que é bem maleável. "Você o coloca direto no osso, ajeita, costura, fecha e deixa lá", diz Reinaldo Marchetto, bioquímico da Unesp de Araraquara.
Entre uma e duas semanas depois, os animais eram sacrificados, e os cientistas avaliavam se os seus ossos estavam recuperados.
Eles não só estavam inteirões como, ao que tudo indica, o biomaterial tinha sido absorvido pelo corpo -mas os cientistas ainda querem mais estudos para confirmar esse desaparecimento.
"Por enquanto, prefiro dizer apenas que tudo indica que ele seja reabsorvível", diz Sybele Saska, cirurgiã-dentista que é aluna de doutorado de Marchetto e responsável pela pesquisa.
A velocidade da recuperação foi surpreendente, diz Marchetto. "Em condições normais, levaria no mínimo o dobro do tempo, poderia chegar até a 60 dias."
Claro que pequenas perfurações em um osso grande como o fêmur são diferentes das grandes fraturas de um motoqueiro que se esborracha na rua, por exemplo.
Os cientistas, porém, estão entusiasmados. Primeiro porque os ossos de ratos são parecidos com os humanos. Aplicações de menor porte em pessoas, como em leves fraturas no rosto, poderiam vir primeiro, diz Marchetto.
"Hoje você coloca componentes metálicos para promover a regeneração espontânea, e depois precisa fazer uma nova cirurgia para retirá-los. Com o nosso biomaterial, em 15 dias recalcificou, sem precisar abrir de novo."
Testes com humanos devem começar nos próximos anos. O desafio será tratar lesões grandes (como ossos importantes quebrados).
Para isso, os cientistas vão ter de achar um jeito de modelar a membrana de celulose, hoje pequena e muito flexível, em uma estrutura tridimensional maior, mais fixa -assim, ela vai recuperar mais do que pequenos furos.
Saska, que ainda quer ver seu biomaterial no SUS, deseja dedicar seu pós-doutorado a esse próximo passo.
Os cientistas já pediram a patente do biomaterial. Participaram da sua criação também os professores da Unesp Ana Maria Gaspar e Younes Messaddeq, entre outros.
Fonte: Folha Ciência