terça-feira, 31 de março de 2015

Projeto sobre recursos genéticos é aprovado na Câmara dos Deputados

Pois é pessoal...

É de conhecimento de muitos que o Brasil é o país com a maior biodiversidade no planeta. Isso, é claro desperta o interesse de grandes grupos que buscam, continuamente, extrair de nossas fronteiras substâncias que possam ser utilizadas no desenvolvimento de diversos produtos (cosméticos, alimentícios, medicamentos, etc, etc e etc...).
 
Esse é mais um exemplo de como ainda estamos negligenciando uma "riqueza" que já no presente, e ainda mais no futuro, pode ser determinante para a soberania de nosso país. E quando surgem situações como essa é inevitável ficarmos preocupados com os rumos ambientais que estamos seguindo, por conta de decisões políticas muitas vezes determinadas por interesses exclusivamente pessoais.

 
 
Esse é o caso do novo projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados e que agora segue para o Senado Federal. O projeto, encaminhado pelo Deputado Alceu Moreira (PMDB/RS), pretende facilitar o acesso de pesquisadores e indústrias aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade e à agrobiodiversidade. 
 
Ou seja, comunidades tradicionais e indígenas que há muito tempo detém conhecimentos tradicionais sobre o uso de determinadas substâncias e organismos estão sendo desrespeitados e roubados de forma desleal por essa proposta. Mais do que isso, a votação do projeto abre uma brecha legal que permite, aos poucos, que a biopirataria e a introdução de espécies exóticas torne-se muito mais fácil e - de certa forma - legal. O que seria desastroso para a soberania nacional. Além disso, em alguns pontos o projeto vai contra o Protocolo de Nagoya (um acordo internacional que foi criado e regulamenta o acesso aos recursos genéticos e o compartilhamento de benefícios da biodiversidade) que o Brasil ainda não ratificou!! Importante destacar que sem ratificar o protocolo e com esse projeto sendo encaminhado assim, facilita-se muito que casos de biopirataria possam continuar acontecendo e expatriando recursos genéticos e ambientais que são brasileiros. Tornado-os inacessíveis a nós mesmo e mais, àqueles que necessitam desses recursos para viver.

Diversos casos de biopirataria envolvendo espécies brasileiras já foram relatados e alguns ainda seguem em disputa judicial. Porém, quando a questão se internacionaliza, torna-se mais difícil um resultado em favor de uma espécie, de uma comunidade tradicional ou de um grupo indígena. São os vetores de força que condicionam a relação desigual entre diferentes grupos na lógica global que vivemos....

É fundamental acompanharmos essas discussões que direcionam os rumos de grandes bens ambientais  e culturais que temos e que estão, nesse momento, criticamente ameaçados por interesses de:
- Grandes empresas multinacionais que pretendem em uma política desleal, explorar grupos étnicos mais frágeis e incapazes de lutar com as mesmas armas;
- Produtores rurais que pretendem explorer mais e mais os recursos de nossa terra apropriando-se dela para constituição de grandes desertos verdes, pobres em biodiversidade e capacidade de manutenção da vida;
- Políticos vendidos que somente veem o poder à sua frente e usam da democracia em que vivemos como meio conveniente para agir de forma pessoal e desrespeitosa.

Enfim....
 
Nesses outros links abaixo estão alguns textos sobre o Projeto de Lei e o que ele traz como consequência:
 
 
 
 


Vamos nos informar e nos posicionar pessoal!!
 
 

sábado, 28 de março de 2015

Os desaparecidos do Antropoceno

E se pudéssemos olhar para os processos de extinção pelos olhos da animalidade? Como seria? Como os últimos representantes de uma espécie sentiriam seu fatal desaparecimento?
Com as turmas da terceira fase, estamos discutindo sobre a classificação biológica, extinção, especiação, evolução...
Eis que leio o texto de Juliana Fausto, "Os desaparecidos do Antropoceno" que foi base de sua fala no Colóquio "Os Mil Nomes de Gaia - do Antropoceno àIdade da Terra​".

Belíssimo texto. Potencializando uma discussão fundamental. Por um lado o Antropoceno enquanto período ainda indecifrável e com a força do passado-presente-futuro que nos move, junto ao planeta, para algo ainda desconhecido, mas já sombrio. E por outro, os processos que tornam nossa relação com esse mesmo planeta e os seres que o compartilham conosco algo fantasioso e com requintes de ficção científica.

Juliana discute, por exemplo, sobre os eventos que tentam trazer de volta seres extintos. No mais audacioso processo à la Jurassic Park. Reestabelecer animais e indivíduos já desaparecidos, como se o mundo que os excluiu pudesse novamente recebê-los de braços abertos, arrependido e envergonhado... Ou as situações que tornam alguns desses animais, entidades mortas-vivas (pois estão em processo de desaparecimento, embora ainda existam em cativeiros pelo mundo afora...). Espécies zumbis, como os seriados que vocês assistem e que parecem cada vez mais se tornarem comuns. Prenhas de uma vida transitória e fadada ao quase-fim. Ela fala também sobre os animais que já se tornaram pedra. Fósseis. Enrijeceram no passado-presente apocalíptico que nos enreda a todos..... Nosso tempo atual tornou-se especialista em produzir seres de pedra. Fósseis.

No meio de tudo vejo a Biologia e o que vínhamos trabalhando. Com seus conceitos, suas definições e noções que tentam balizar esses processos contínuos.

O que significa a ciência sem sua dimensão social, política e filosófica? O texto de Juliana discute essa relação.  Juscelinomys candango. O rato, endêmico da região de Brasília e descoberto quando se construía a cidade, foi dizimado. Uma espécie, de um gênero ainda desconhecido até então, dizimada pelo desenvolvimentismo. Ao preço da construção de uma política de Estado, um ser desaparece do planeta. Hoje, o rato que pela nomenclatura popular passou a ser chamado de candango, existe estático no Museu Nacional da UFRJ. As entranhas tornadas enchimento de capim. Os olhos de vidro, a expressão ausente e a etiqueta classificatória presa ao rabo, endurecido pelo tempo.
Aqui jaz: Juscelinomys candango
Eis que a frase mais emblemática de seu texto martela em minha cabeça:
"O mundo, em uma palavra, empobrece a cada extinção."
Uma fatia do mundo desaparece com os seres que nela habitavam. O mundo perde sua densidade, sua força.

Não, não haverá mais aquele canto.
Não, não existe mais aquela mordida fatal.
Não, aquele gesto de coletar frutos deixou de existir.
Não, não existe mais.
Desculpe, não.
Passou.
O mundo torna-se menor e menor. Mais simples, mais pragmático, mais desenvolvido. Mais. Vazio.

Post-scriptum:

Em uma caminhada despropistal pelos labirintos da rede, eis que encontro um blog e, nele, um texto sobre o "Homem enquanto animal doente", baseado no obra do filósofo Friederich Nietzsche. Um trecho me trouxe de volt apara esse p.s.:

Além disso, o homem é um animal doente, “o mais prolongada e profundamente doente entre todos os animais porque é também o animal não fixado, sendo assim o grande experimentador consigo mesmo. Essa autoexperimentação – que acarreta a instabilidade, a flexibilidade, a mutabilidade e insegurança – pressupõe mal-estar, sofrimento, insatisfação, ânsia, insaciedade permanente, mas também desafio e combate, repto lançado ao destino, disputa por domínio sobre animais, natureza e deuses (também e sobretudo sobre si mesmo)”.


 

quinta-feira, 19 de março de 2015

Maconha Yang... Yin...

Pessoal,

Eu comentei com alguns de vocês que iria fazer uma nova postagem abordando mais uma vez a questão da maconha.

Há algum tempo já fiz uma publicação aqui discutindo sobre a questão da legalização do uso da maconha que gerou um debate muito rico, com vários posicionamentos e discussões. Como já se passaram alguns anos daquela publicação, decidi abrir um novo espaço sobre isso, pois li uma notícia bem interessante sobre os usos medicinais da maconha que estão sendo feitos atualmente.

Inicialmente gostaria de falar sobre o título da postagem: yang e yin.


Acredito que a maioria de vocês já tenha ouvido falar, mas poucos devem saber que esses termos são conceitos básicos de uma tradição filosófica e religiosa muito antiga da China: o taoísmo. Para o taoísmo, precisamos exercer nossa vida em harmonia com o Tao (que poderíamos pensar como o caminho, a fonte, a força que movimenta tudo que existe. Para encontrar o Tao é fundamental compreender o caminho e mais. Saber que o no caminho existe o yang e yin, ou seja a dualidade. Algumas das associações comuns com yang e yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e passivo, movimento e quietude. Os taoistas acreditam que nenhum dos dois é mais importante ou melhor que o outro. Na verdade, nenhum pode existir sem o outro, porque eles são aspectos equiparados do todo. Muito bem, agora que isso já está explicado vamos à Canabis!

Primeiramente, gostaria de fazer um exercícios de distanciamento. Uma das dificuldades em discutir a questão da maconha é pela forma como ela se apresenta hoje, em nossa sociedade ocidental, contemporânea. Hoje a maconha é um produto como qualquer outro dentro da lógica capitalista em que vivemos. Ou seja, ela padece das mesmas leis de oferta e procura. Para quem vende, é interessante que o mercado exista e seja grande. Para quem consome, é interessante um custo acessível e um produto de qualidade.

Quando vemos o anúncio de um produto na televisão ou internet, estamos sendo bombardeados pela publicidade que tenta nos convencer, a todo custo, que devemos consumir determinado produto. Com as drogas o princípio é o mesmo. Porém, como elas não usufruem de um espaço midiático legal, elas necessitam de outras formas para convencer os consumidores da necessidade de seu uso. Ou seja, continuamente se desenvolvem drogas com princípios ativos mais fortes e com mais capacidade de criar dependência para que o mercado continue aquecido. 

Voltando à maconha, é fato que a relação entre ela e o ser humano é antiga. Remonta há mais de 6000 anos, na Ásia, quando já se usava a Cannabis sativa principalmente para extração das fibras (o cânhamo) para a produção de cordas, papéis, fios, etc. 

Plantação de Cannabis para retirada de fibras do cânhamo (à direita)
Além desse uso, na China, há mais de 2000 anos a maconha já era usada com fins medicinais (os chineses descreveram os potenciais terapêuticos desta planta no Pen-Ts'ao Ching, considerada a primeira farmacopeia conhecida do mundo), como anticonvulsionante, tranquilizante e analgésico. Também na Índia, a erva já há milênios é parte integral da medicina ayurvédica, usada no tratamento de dezenas de doenças. Sem falar que ela ocupa um lugar de destaque na religião hindu. Pela mitologia, maconha era a comida favorita do deus Shiva. Da mesma forma, alguns grupos budistas e árabes faziam uso da Cannabis como psicoativo. Historicamente, então, a maconha está enraizada ao desenvolvimento  sociocultural do ser humano. Assim como o tabaco, o álcool e várias outras subtâncias psicoativas.

Porém, é fundamental fazer uma distinção, nesse cenário histórico-antropológico e sociológico, entre o uso da Canabis no passado e como hoje ela se vincula à sociedade contemporânea em que vivemos. Argumentar que, pelo fato de Canabis estar vinculada ao ser humano há tempos e ter seu uso extremamente vinculado ao desenvolvimento cultural da humanidade não existem problemas em relação a ela é, no mínimo, ser reducionista e superficial.

E aí volto ao que escrevi anteriormente. Toda a histórica relação entre ser humano e Canabis é inquestionável. Porém, precisamos entender que hoje vivemos em uma sociedade essencialmente capitalista, que apresenta diferentes aspectos culturais, anseios, desejos e comportamentos. Somos diferentes. Hoje a Canabis se tornou um produto, cujo consume, produção e venda seguem as leis do mercado que a tudo produtifica.

Inclusive, biologicamente ela também mudou. A maconha produzida e vendida hoje é uma variedade completamente diferente daquela que se usava na antiguidade. Hoje já existem variedades com uma quantidade muito maior de THC (Skunk, por exemplo). Melhoramentos genéticos para fazê-la ser ainda mais forte e intensa. Alo-ouuu, isso também responde ao mercado... Quanto mais forte a variedade, maior a intensidade dos resultados.... Como diz Criolo, ironicamente em sua música "Convoque seu Buda": "se a maconha for da boa que se foda a ideologia...".

Eu quis construir todo esse panorama argumentativo para entrar de fato na questão principal que é compartilhar uma notícia que li há alguns dias e fala sobre os benefícios e malefícios da maconha. Vocês vão perceber que no texto surgem pontos que trago aqui...

Segue nesse link: Como a ciência busca o equilíbrio da "boa maconha"

Gostei bastante dessa notícia porque ela não é fatalista. Não diz, por exemplo, que a maconha é, somente, terrível, mas também não diz que a maconha é, somente, inofensiva. Enfatiza seu uso medicinal (Os chineses já sabiam né?) e como um dos seus princípios ativos, o canabidiol, tem uma função extremamernte importante em relação a algumas doenças genéticas. Mas também questiona os problemas das variantes melhoradas e de seu perigo no desenvolvimento de síndromes psicóticas.

Isso é  yin e yang!!

E eu penso que isso é justamente o que falta quando nos posicionamos e discutimos sobre drogas: o meio-termo. O ponto que permita não ver as coisas tão deterministas assim: certo - errado. Bom - ruim. Benéfico - Prejudicial. Esse limite não existe. Não há uma resposta.  O que existe são indícios, possibilidades, caminhos. Buscar um ponto definitivo nos paralisa.

Precisamos compreender que não existe uma verdade, uma resposta. Existe sim, a necessidade de termos responsabilidade com nosso corpo, cuidado com nossas limitações e respeito com nossa vida.

Fica a dica! E um video muito bacana que vi esses dias e representa muito bem a questão do vício. Talvez seja um ponto interessante para finalizar minha postagem:



Referências:

Maconha: uma perspectiva histórica, farmacológica e antropológica.

Uso de maconha na adolescência e risco de esquizofrenia

quarta-feira, 11 de março de 2015

Adeus caixões?

Pessoal,

Com a Segunda Fase estamos discutindo sobre divisão celular, gametogênese, etc... Em determinado momento conversamos a ideia de que a vida é um ciclo contínuo. Eterno retorno. Nascemos, crescemos e morremos,mas aquilo que nos constitui serve de elemento para que outras vidas também possam constituir-se. Esses três pequenos vídeos mostram um pouco disso:

Daniel Csobot - Macro Time Lapse
Sam Taylor-Wood - A Little Death
Emma Allen - Ruby


Aí, a Laura, da turma 222 encontrou essa notícia e me mandou. Resolvi postar aqui e abrir a discussão. O que acham da proposta? Será que uma coisa assim funciona?

Notícia: cápsula orgânica transforma pessoas falecidas em árvores...


Quando li a notícia comecei a pensar sobre a questão da morte e de nosso comportamento em relação a ela... Culturalmente a morte pode significar muitas coisas para o ser humano. Cada cultura, em cada local do planeta, tem um entendimento sobre a morte e uma maneira de relacionar-se com ela. Para a antropologia, as tradições culturais relacionadas à morte são como aquelas relacionadas ao nascimento. Ou seja, assim como quando um bebê nasce, ele ganha um nome, e existem tradições que determinam o nascimento daquele indivíduo na cultura, um morto só se torna de fato um morto quando passa pelos rituais específicos da cultura.

Uma definição bacana de ritual está expressa nas palavras da antropóloga Mariza Pereiano:
 O ritual é um sistema cultural de comunicação simbólica. Ele é constituído de sequências ordenadas e padronizadas de palavras e atos, em geral expressos por múltiplos meios. Estas sequências têm conteúdo e arranjos caracterizados por graus variados de formalidade (convencionalidade), estereotipia(rigidez), condensação (fusão) e redundância (repetição).
Existem rituais que, para nós, podem parecer tenebrosos.

Mulher Ianomâmi.
O primeiro exemplo que trago é dos povos Ameríndios da América do Sul (Ianomâmis que vivem na Amazônia venezuelana). 

Para esse povo, a morte de um parente é ocasionada a ação de xamãs e demônios. Nesse caso, logo após a morte o corpo é cremado. As cinzas e ossos resultantes são guardados e depois de um tempo são incorporadas a uma sopa de bananas que o grupo familiar do morto come. 


Ritual Ianomâmi.

Com isso eles acreditam que estariam absorvendo a energia vital do morto. A prática é chamada de endocanibalismo.   









Representação de um Jhator.
Entre os tibetanos, em sua maioria budista, existia um costume chamado de "jhator". Ele era um hábito funerário tibetano, em que partes específicas do cadáver eram dissecadas e depositadas no alto de uma montanha para sofrer a ação da natureza, sobretudo das aves de rapina. 

Lembrando que para o budismo, após a morte, a alma segue viva e torna a reencarnar. Nesse caso, o corpo é somente uma casca vazia que nada mais significa. 

Aves saprófitas se alimentando de
cadáver humano em um Jhator.

A religião zoroastrista foi criada na antiga Pérsia (onde hoje se localiza o Irã pelo profeta Zaratustra ou Zoroastro. Hoje ela é professada em regiões do Irã e Iraque. 

Para o Zoroastrismo, o corpo de um cadáver é algo impuro, e para não violar a sacramentalidade da terra, recusam-se a enterrar ou cremar um corpo. 




Torre do Silêncio vista de longe.
Torre do Silêncio vista de cima. Na cavidade eram
depositados os cadáver.

Em vez disso, depositam o defunto no alto de uma construção nas montanhas, onde os abutres vêm e devoram sua carne, após o que são exumados os ossos, e depois disso jogados num curso d'água para seguir direto em direção ao mar,
não tocando assim o solo. Essas construções nas montanhas são chamadas Torres do Silêncio. 






Imagem de uma necrópole romana com suas tumbas.
Os antigos romanos (possivelmente tendo capturado essa tradição dos egípcios) costumavam criar
Necrópole romana localizada no subsolo da Basílica de São Pedro
no Vaticano. No detalhe, uma urna funerária.
suas necrópoles de forma que a família pudesse ter acesso ao local onde o morte estava enterrado em urnas. Isso porque eles acreditavam que o morto necessitava seguir os hábitos de quando estava vivo, assim, os parentes levavam mel, vinho e outros alimentos, até a tumba na crença de alimentarem a alma do falecido. Também era comum a realização de jantares ao redor do túmulo.

"Cemitério" aborígene na Austrália.
Para algumas tribos de aborígenes da Oceania, a tradição manda que o corpo seja depositado em plataformas construídas com galhos para que possam coletar os líquidos produzidos pela decomposição. Os ossos são pintados e transportados pela família, e os jovens usam os líquidos para pintar o rosto e o tronco, na crença de que assim absorverão as virtudes do morto.

Os Toraja são uma tribo de uma região montanhosa da Indonésia. Para eles, a morte é uma celebração complexa que tem uma preparação de quase 2 meses e exige uma grande quantidade de riqueza para ser realizada. Muitas famílias pobres chegam a arruinar-se financeiramente durante gerações para realizar o ritual para algum parente morto. 




Tongkonan, casa típica Toraja.





 Ele se baseia em uma preparação do cadáver durante os 2 meses. A família deve construir uma casa típica (Tongkonan) para guardar as oferendas ao morto, oferecer banquetes aos convidados (às vezes quase 2 mil pessoas), construir uma escultura em tamanho natural do morto que tenta representá-lo fielmente (inclusive algumas vezes usa seus próprios cabelos). Além disso, no dia do enterro, o cadáver é levado todo ornamentado até o túmulo e, pelo caminho, são mortos inúmeros búfalos (quanto mais búfalos a família puder mandar matar, mais rápido será a chegada da alma do defunto, montada nos búfalos até Puya - região sagrada) . O sangue desses animais é coletado em tubos de bambu por crianças durante o percurso do cadáver até o túmulo. Ufa....

Detalhe dos chifres de búfalo na entrada de
uma Tongkonan usada para depositar as
oferendas a um defunto.
No final de tudo podemos pensar que nossa tradição cultural de enterrar os mortos nos cemitérios, em suas lápides finamente ornamentadas com mármore e granito, embora possa causar uma série de danos ambientais e consequências problemáticas pelo espaço, etc, também é um ritual que está muito bem enraizado em nossa cultura ocidental.... Assim, a ideia de propor que os mortos possam ser "plantados" é muito legal do ponto de vista ecológico (tornar a ciclagem dos nutrientes mais direta, usar a energia da matéria que nos constituía para nutrir uma árvore, enfim...), mas acredito que seja uma ideia um tanto difícil de se tornar comum, justamente pois esbarra em definições que há tempos nos acompanham. 


Detalhe da entrada do enorme cemitério Père-Lachaise, em Paris.
Lá estão sepultadas inúmeras personalidades.

Referências:

http://www.tanatopedia.net/index.php/Rito_funerario_Toraja

http://id.discoverybrasil.uol.com.br/estranhas-tradicoes-para-celebrar-a-morte/

http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/viewFile/560/518

http://en.wikipedia.org/wiki/Dakhma

http://pt.wikipedia.org/wiki/Zoroastrismo

https://www.youtube.com/watch?v=ZR8Z2Osk0dg