Fonte: Revista Fapesp
Pois é pessoal,
Nas terceiras fases temos falado sobre a biodiversidade e classificação biológica. A notícia que compartilho foi publicada já faz 1 ano, mas é muito significativa. Depois de um intenso trabalho de quase 7 anos, um grupo de quase 600 botânicos do Brasil concluiu um levantamento sobre a diversidade de plantas, fungos e algas do Brasil.
O número é impressionante: são 46.097 espécies catalogadas. Bastante, né? Mas o mais impressionante e também dramático (já explico porque...) é que aproximadamente 43% dessas espécies são endêmicas. Ou seja, existem somente aqui, em território nacional. Dá uma espiada na imagem aí embaixo.
A última publicação desse tipo é de 2010 e contava com um número bem menor: 40.989 espécies. Isso quer dizer que em 6 anos esse número cresceu em mais de 10%! Isso quer dizer que surgiram novas espécies de plantas? Pensem o que Lineu e os fixistas pensariam disso... aiaiaiai Nãããããão minha gente! Significa que em um grande esforço científico, mais conhecimento e tecnologia os cientistas foram capazes de identificar novas espécies ou grupos taxonômicos.
Sim esse trabalho envolve muita energia, dim-dim e tempo! Mas o número vai crescer ainda mais, pois segundo dados, a cada ano os botânicos "descobrem" aproximadamente 250 novas espécies.
Bom, agora vamos falar sobre o dramático da situação! Pois é gente, embora o número de espécies catalogadas só aumente, também aumentam as pressões em relação à nossa flora. Vamos ser sinceros: quantos de nós olhamos de fato para as plantas como seres vivos e não como meros "enfeites". Tudo bem gente, podem confessar... Isso não é um problema. Existe até um termo para caracterizar essa nossa dificuldade em "enxergar" as plantas, a cegueira botânica (vamos discutir sobre isso lá na frente). Claro, as plantas não se movimentam visivelmente, não interagem com a gente então se torna mais difícil vê-las da mesma forma que vemos nosso cachorrinho brincalhão, ou nosso gato genioso.
O fato é que essa extrema dificuldade em ver as plantas faz com que elas estejam sujeitas à pressões contínuas: desmatamento, destruição de hábitats, mudanças climáticas, etc. São pressões que estão interferindo na existência de muitas espécies. Um exemplo dramático pode ajudar a entender:
Aechmea xinguana ilustrações com morfologia das estruturas da nova bromélia descoberta |
Enquanto o levantamento era feito, um grupo de botânicos identificou uma espécie nova de bromélia com uma inflorescência vermelha, a Aechmea xinguana, em uma área de mata já coberta pela água do reservatório da usina de Belo Monte, em construção no norte do Pará. Só se salvaram alguns exemplares, mas toda uma espécie desapareceu sob as águas criminosas de Belo Monte... Aqui tem um 3x4 da nova bromélia:
Temos que pensar nisso e cuidar de nossa diversidade botânica. Afinal, o Brasil é o país continental com maior diversidade de espécies de plantas do mundo! Seguido por China, Indonésia, México e África do Sul. Em número de espécies endêmicas, perde apenas para grandes ilhas como Austrália, Madagascar e Papua Nova Guiné, cujo isolamento favorece a formação de variedades únicas, e para apenas uma área continental, o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul.
Mas como cuidar de toda essa diversidade? Uma dica vem do professor José Rubens Pirani do Instituto de Biociências da USP:
“Não precisamos plantar apenas rosas e azaleias. Cultivar plantas ornamentais nativas em nossas casas, nas ruas e nas margens de estradas é uma forma de preservar a diversidade.”
E aí, que tal olharmos para as plantinhas com olhos de afeto e perceber suas diferenças e individualidades?
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