sexta-feira, 17 de junho de 2011

Maconha: Legalização? Descriminalização? Liberação?

Essa discussão foi proposta em uma aula e como sempre estamos correndo, eu falei que ia trazer ela para o Blog. Acho super importante discutir este tema, porém, temos que fazer isso de forma séria. Existem muitos temas que achamos importantes, gostamos de discutir, mas dificilmente vamos pesquisar e tentar buscar nos aprofundar para discutir de uma forma mais embasada!

De pouco adianta discutirmos um assunto como este sobre a descriminalização da maconha sem termos um pouco de conhecimento sobre o que envolve esta temática. Não sendo assim, caímos no risco de tomar uma posição que na realidade não é nossa e sermos manipulados por diversos interesses. Já temos aí um primeiro ponto a ser discutido: Liberação? Legalização? Descriminalização? Existe diferença entre estas três idéias? O que elas significam? Um texto sobre esta diferença que é fundamental para a discussão está disponível neste link.

Bom, partindo da idéia de que, para discutir vocês leram ou sabem a diferença entre estas três idéias, eu vou colocar alguns pontos para pensarmos juntos.


1º - Biologia

Para trazer a discussão para dentro da Biologia, acho importante mencionar um pouco as ações da maconha. Bom, como a maioria deve saber, a maconha provém de uma planta, a Cannabis sativa. A planta contém aproximadamente 400 substâncias químicas, entre as quais se destacam pelo menos 60 substâncias conhecidas como canabinóides. Alguns deles têm efeito psicoativo. O mais significativo e potente se chama Delta-9-THC. Ele é o responsável pelas ações psicoativas da maconha. Ações psicoativas são aquelas desencadeadas pelo THC que agem no sistema nervoso e trazem conseqüências psicológico-comportamentais e alterações fisiológicas e biológicas. A maioria destas alterações se relaciona com a liberação de neurotransmissores associados ao prazer que são liberados quando o organismo entra em contato com o THC. Porém, à medida que o uso vai se prolongando, o organismo do usuário tenta se ajustar a esse hábito. O cérebro adapta seu próprio metabolismo para absorver os efeitos da droga. Cria-se, assim, uma tolerância ao tóxico. Desse modo, uma dose que normalmente faria um estrago enorme torna-se em pouco tempo ineficaz. O usuário procura a mesma sensação das doses anteriores e não acha. Aí já surge um problema: o uso contínuo faz com que cada vez mais se aumente o uso e, quando o uso já não basta, existe um grande risco de se passar para outras drogas na tentativa de manter aquele prazer. Além disso, são várias as conseqüências do THC no organismo, abaixo seguem algumas de diferentes tipos:

Efeitos no controle psicomotor: desajustes no controle e coordenação motora, alterações da percepção sensorial e temporal, perturbações da comunicação oral, inibição do movimento.

Efeitos cognitivos: dificuldades de concentração, distúrbios na memória a longo prazo, danos em todos os estágios da memória incluindo codificação, consolidação e recuperação, dificuldades de atenção, diminuição da performance aritmética

Efeitos psicóticos: euforia, depressão, ansiedade, sensação de bem-estar, sonolência, isolamento, imobilização, desordens psicóticas, síndromes de delírio e ansiedade, sentimentos de pânico, despersonalização

Efeitos físicos: taquicardia, pressão alta, secura da boca, diminuição da secreção lacrimal, dores de cabeça, náuseas, vômitos

Efeitos pela fumaça: diminuição da capacidade de respiração durante o exercício físico, dificuldades respiratórias, produção de muco, tosse crônica, câncer.

Claro, existem muitos outros efeitos, sendo estes os principais. Bom, isso em relação à biologia.



2º Sociologia

A presença e uso da maconha e de outras drogas têm uma relação direta com a sociedade como um todo. Indo mais longe, todo nosso desenvolvimento enquanto seres sociais e culturais, de alguma forma se vincula ao uso de substâncias psicoativas variadas,com diferentes objetivos (ritualísticos, recreativos, medicinais, religiosos, etc...) É importante pesar isso também. Será que a sociedade, de acordo com as leis e regras que a constituem nesse momento, está preparada para uma ação como legalizar a maconha? Como o texto menciona a legalização é criar normas para o uso legal, porém não basta isso. Pensem em todo o aparato de saúde, comercialização, produção que deverá ser criado.

Aí coloco uma questão que particularmente me incomoda bastante: é todo um processo extremamente desgastante, caro, complexo para estruturar algo que é uma substância que traz conseqüências, em sua imensa maioria, negativas. Será que toda esta energia usada na luta e processo de legalização não poderia ser usado em algo mais produtivo como um todo para a sociedade? Talvez pensar em políticas públicas para melhorar as condições de saúde de toda a população? As condições de educação e cultura? Pensem por exemplo o cigarro e o álcool. São drogas, legalizadas e que hoje se faz todo um trabalho de tentar evitar o uso. Não é meio paradoxal? Legalizar para evitar o uso? Este é outro ponto.



3º Interesses

Bom, é claro que existem diversos interesses relacionados à legalização da maconha. O Estado, da forma como está hoje, já não tem controle nenhum sobre a comercialização e uso, então, a forma de tentar obter o controle, seria legalizando. Porém, como será que os grandes interesses que movem a comercialização e industrialização das drogas vêem esta discussão? Como ficariam aqueles que lucram com a venda ilegal? Como o grande mercado seria tornado legal? Outro ponto...

Além disso, existe o fato de que hoje o que se gasta com as tentativas de prevenção e tratamento em relação aos usuários de drogas é absurdo (e de forma geral não dá resultado nenhum!). Pessoal, é terrível saber disso, mas a maioria dos hospitais psiquiátricos (inclusive existe um aqui em Floripa, o HCTP – Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, um manicômio judiciário que fica junto ao presídio na Trindade) estão cheios, abarrotados de usuários de droga que, ou tentam se livrar do vício, ou já foram tão afetados que os danos são irreversíveis.



4º Livre-arbítrio

Muita gente justifica a legalização com a fala que se trata de livre-arbítrio. Devo concordar. cada um deve terliberdade para agir e lidar com as consequências de seus atos. Ou seja, cada um tem o direito de fazer o que considera melhor para a sua vida. Acho muito valoroso isso desde que se saiba o que faz.
Será que temos realmente maturidade e conhecimento suficiente para entender o que está em jogo? Como posso dizer que estão sendo livre e fazendo o que acho melhor se nem conheço bem o que estou fazendo? Temos que ter o cuidado para não nos tornarmos “fantoches”, sendo usados de forma violenta para fazer girar uma máquina muito maior do que nós. Esse ponto justifica também argumentos de pessoas que plantam sua própria maconha. Tudo bem, ela planta, não alimenta o tráfico, as mortes, a violência, etc. Mas será que tem consciência da auto-violência que está fazendo? Lembrem-se, qualquer substância é tóxica. Depende da quantidade. Algumas com uma baixíssima quantidade já são tóxicas, outras a partir de uma grande quantidade.
 


Está aberto o debate! =)

Referências do meu texto
 
- Liberação, Legalização ou Descriminalização: Você sabe a diferença?
- Abuso e dependência da maconha – Revista da Associação Médica Brasileira