segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Discussão na 213!!

Bom, escrevo este tópico com base na aula que tivemos na 213 hoje. Acredito que deixei vocês um pouco angustiados e enraivecidos (bufando e sofrendo) com uma série de questionamentos e dúvidas. Como eu disse, gosto muito disso, de problematizar. O quanto responder disso tudo, aí depende. Acredito que algumas respostas sejam importantes, outras são mais interessantes que fiquem sem resposta e que permitam a reflexão. Bom, especificamente em relação ao que deixei para vocês coloco aqui alguns pontos que podem talvez responder um pouco (pois eu disse que esta questão ainda não é completamente compreendida). Espero que tenham fôlego pra ler tudo e possam comentar e discutir se pensarem diferente!

A pergunta era, no momento da fecundação, como é definido qual o SPTZ que vai entrar no ovócito e fecundá-lo? Como vocês já sabem a cada ejaculação são liberados milhões de SPTZ, sendo que somente algumas centenas chegam ao ovócito e destes apenas um consegue entrar. Mas aí vem a pergunta? O que define qual vai conseguir entrar?

Como eu falei, esta pergunta ainda não tem uma resposta precisa, mas existem alguns indícios que nos levam a entender um pouco mais este processo.

Primeiro: eu já tinha deixado uma dica de que exiswtem proteínas específicas relacionadas a este processo. Pois bem, alguns estudos mostram que os SPTZ apresentam canais (poros) de íons chamados CatSper. Estes canais reconheceriam a presença da progesterona liberada por células que estão ao redor do ovócito (as células foliculares da corona radiata) e provocariam a entrada de Cálcio no SPTZ. Este cálcio faria os flagelos se movimentarem mais rápido fazendo com que os SPTZ chegassem mais rapidamente ao ovócito e pudessem "perfurá-lo" mais rápido. Este perfurar na verdade é a liberação do acrossomo, rompimento da zona pelúcida e entrada do núcleo do SPTZ. Isso também ocorre pelo cálcio. É ele que determina o rompimento do acrossomo, liberação de enzimas e entrada do núcleo do SPTZ no ovócito. Este é um ponto;
Segundo: mesmo assim, como é que o SPTZ se torna o primeiro a chegar e perfurar a zona pelúcida? Bom, outro ponto a ser levado em conta é que o ovócito é circundado por algumas células (células foliculares) que formam a corona radiata. Além da zona pelúcida, existe uma camada de células formando a corona radiata. Este é outro ponto. Aqueles SPTZ que conseguem abrir espaço mais rapidamente entre estas células e se aproximar mais rapidamente da membrana da zona pelúcida têm mais chance. Nesta passagem o SPTZ passa por um processo chamado capacitação, em que ele passa a mover o flagelo mais rapidamente e se libera de alguns resíduos de proteína ainda provenientes do epidídimo.


Terceiro: neste ponto precisa existir a liberação do conteúdo de enzimas do acrossomo para a "perfuração"da zona pelúcida. Bom, alguns daqueles que chegaram já liberaram o acrossomo para perfurar a corona radiata. Estes não terão mais chance de perfurar a zona pelúcida e falharam. Assim sobrarão alguns com o acrossomo ainda intacto para conseguir perfurar a zona pelúcida. Aí entra mais um ponto.

Quarto: bom, aí entram os fatores que não podem ser mensurados e ainda são inintendíveis. Certamente tudo isso até então, tem sentido evolutivo, o SPTZ mais eficiente, com mais velocidade, mais capacidade de nadar e se aproximar do ovócito tem mais chance. Porém, ainda existe um fator que é o "acaso". Imaginem assim, um STPZ chegou antes de todos pois tinha mais capacidade de nadar, mas ao chegar liberou seu acrossomo com todo esforço e conseguiu perfurar a corona radiata, mas aí nao consegue mais avançar e já deixou o caminho aberto. Na sequência vem um mais fraco e, tendo o caminho já aberto, consegue se aproximar do ovócito e perfurar a zona pelúcida. E ele entra!

Ou ainda, esta situação. O ovócito é uma célula que apresenta irregularidades. Então imaginem uma situação em que um SPTZ mais ou menos forte, chega, rompe as células da corona radiata e logo atrás vem um mais forte, mas naquela região exata onde ele chega a corona radiata é um pouco mais espessa, assim ele não consegue chegar até a zona pelúcida e também falha. Ai logo atrás vem um mais fraquinho, mas que "escolhe" outra região do ovócito para tentar penetrar e lá a corona radiata é mais fina, assim consegue chegar à zona pelúcida e fundir seu citoplasma e fecundar.

Bom, como vocês podem ver, é uma questão que envolve inúmeras variáveis. Sendo que algumas a ciência não consegue e - na minha opinião - não vai conseguir explicar com suas certezas, com sua lógica e com suas metodologias, pois é algo que vai além, algo que não podemos explicar e muito menos entender, mas que acontece, é este acaso entre aspas que coloquei.

Deixei vocês angustiados pois é importante podemos arriscar, refletir e pensar em inúmeras possibilidades. A ciência busca a certeza a partir da incerteza, da tentativa, do risco e é disso que precisamos, nos arriscar. Errar não é negativo, não é ruim, nem menos importante. O erro é fundamental na nossa vida e aprendermos com ele mais ainda.

Algumas referências sobre isto:

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/890064-estudo-diz-como-espermatozoide-vai-atras-de-ovulo.shtml
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10131/tde-19102004-135444/publico/sandragabaldi.pdf
http://www.nature.com/aja/journal/v13/n3/full/aja20119a.html (inglês)