domingo, 29 de novembro de 2015

Celebração do corpo humano I

Pessoal,

Há algum tempo comecei uma série de postagens celebrando o corpo humano em suas mais diversas expressões. Acho interessante resgatar as publicações e produzir outras na mesma lógica, afinal, o corpo é nossa primeiro espaço de vivência e experiência do mundo. Então.... Vamos celebrá-lo! :)

Onde está a beleza do corpo humano? Cientificamente talvez esteja na sua plena e complexa precisão. 

De fato, a precisão de funcionamento do organismo humano - e de forma geral da vida -,  é digna das mais profunda admiração.

Mas não  é só a ciência que celebra a beleza do corpo humano não, gente. A arte também faz isso de maneira muito admirável.

Vou trazer alguns exemplos de arte que celebra o corpo humano. Para começar, uma série do fotógrafo francês Julien Palast.


Ele apresenta na série de fotografias "SkinDeep", uma celebração da geografia do corpo humano com suas curvas, desvios e depressões. São corpos que parecem querer fugir dessa membrana multicolorida que os aprisiona. Mas nessa tentativa frustrada de escapar, acabam deixando belíssimas marcas orgânicas de suas biológicas formas.

As cores vibrantes em technicolor, criam uma atmosfera ambígua de luz e sombra, evidenciando algumas partes, escondendo outras. E, além disso, fornecem movimento às imagens.

É a imagem do corpo celebrada em sua forma plena e bela, para além de imposições da moda e da saúde a todo custo.




















domingo, 8 de novembro de 2015

Vamos dançar?

É inevitável reconhecer que o ato de dançar não é uma exclusividade humana. O próprio dicionário Michaelis, no caso, define o ato de dançar como: "Sequência de movimentos estereotipados, mais ou menos rítmicos, executados habitualmente por um animal em resposta a um estímulo particular". Poderíamos pensar na dança como uma consagração do ritmo que nos une a todos, seres vivos. Ritmos que movimentam nossos fluídos, que criam enxurradas dentro de nossas células, que bombeiam nosso sangue, nos fazem respirar como também envelhecer.

É verdade quer há uma potência na dança. Nesse ato aparentemente banal de movimentar o corpo de um lado para o outro, movidos por uma intenção interna. A intenção que mobiliza essa potência pode ser reprodutiva, como no caso da grande maioria dos animais. (Dá uma espiada nas aves e escorpiões dos vídeos aí na sequência).


Várias cavalinhas. Os caules longos e retos
Porém, quando a intenção da dança não repousa na possibilidade da atração de um parceiro para a reprodução ela se transforma em arte. E aí, será que podemos pensar em outros seres vivos dançarinos que não sejam da espécie Homo sapiens? Se você acha que não, assista ao vídeo abaixo que mostra a inusitada dança dos esporos de uma planta, a Cavalinha. A cavalinha é uma planta que guarda em sua existência características muito interessantes. Ela pertence ao gênero Equisetum. Esse gênero é o único na família Equisetaceae, a qual, por sua vez, é a única família da ordem Equisetales e da classe Equisetopsida, que pertence à divisão Pteridophyta. O gênero Equisetum um grupo de exclusividades. Dentro dele estão diversas espécies que comumente são chamadas de Cavalinhas. São plantas bem diferentes. Segue o 3x4 da moça ao lado.

Detalhe das minúsculas folhas.
Possuem folhas muito reduzidas e um caule verde (fotossintético), oco e com diversas juntas e estrias. Apresentam estróbilos nas extremidades onde estão os esporos usados na sua reprodução. São plantas muito antigas, surgiram há aproximadamente 300 milhões de anos, o que as coloca como uma das primeiras plantas a habitar o planeta! Algumas das espécies podem crescer muito como a Equisetum giganteum chegando a cinco metros de altura! Além disso, a cavalinha tem muitas propriedades medicinais.

Por apresentar grande quantidade de minerais e silício em sua composição, é reconhecido seu potencial na recuperação de fraturas e cortes nos ossos, carne e cartilagem, como também pode melhorar o tempo de coagulação do sangue. O alto teor de sílica também fortalece os tecidos conjuntivos do corpo e beneficia pacientes no tratamento de artrite reumatóide. A cavalinha também pode ser uma considerável influência benéfica contra problemas brônquicos, reumatismo e gota. Inclusive a cavalinha (espécie Equisetum arvense) faz parte da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), constituída de espécies vegetais com potencial de avançar nas etapas da cadeia produtiva e de gerar produtos de interesse do Ministério da Saúde do Brasil.
Detalhe dos estróbilos contendo os esporos

Mas o que eu gostaria de enfatizar (além de todo esse floreio biológico interessante e também importante) é a capacidade artística da Cavalinha. Sim! Há poucos dias encontrei um vídeo que mostrava os esporos da cavalinha em uma bela e coreografada dança. Os esporos possuem longos prolongamentos que, em clima úmido, permanecem acoplados ao esporo. Porém, quando a umidade do ar diminui, essas "pernas" se esticam e promovem um belíssimo movimento que lembra uma partitura de dança contemporânea.



Como não perceber a assinatura artística nesse movimento fluído e intenso? Com certeza os esporos da cavalinha não dançam com a mesma intencionalidade que um animal na sua saga reprodutiva, ou como um ser humano em sua atitude estética, mas é, sem dúvida, uma bela dança que me leva a convidar? Vamos dançar?

Sugiro os vídeos abaixo pra encher o corpo de vontade, os músculos de sangue e o coração de ritmo. Que tal improvisar uma dança pelo simples prazer de... 

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Posted by 무용과 on Domingo, 26 de janeiro de 2014


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Posted by 무용과 on Segunda, 21 de outubro de 2013

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Dançar pela vida!!

Referências:

- Dicionário Michaelis
- Equisetum
- Cavalinha: benefícios e propriedades medicinais

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Os pandas são herbívoros???

Pessoal,

Como havia falado em aula, hoje deixo aqui um curta metragem "instigante" sobre os pandas.

Hã tempos os cientistas vêm se questionando e pesquisando sobre a dieta e vida do urso panda, que na verdade não é de fato um urso, pois pertence ao gênero Ailuropoda e não ao gênero Ursus. Ohhhh isso é incrível!! Não, na realidade isso é interessante e reflete somente um processo evolutivo

Mas enfim, esse interesse e perguntas indiscretas sobre o "urso" panda se proliferam entre os cientistas e leigos. Mas se ele é um urso, não deveria ser carnívoro? Por que então pertence à Ordem Carnivora? O que aconteceu em sua evolução para que passassem a se alimentar somente de bambu?  Por que eles não têm interesse em sua própria reprodução? Por que eles são tão fofinhos e lindos? Enfim...
A maioria desses questionamentos já apresenta uma resposta bem consistente, porém, o interesse em relação aos pandas continua em alta.

Há pouco foi publicada uma reportagem no jornal espanhol "El País" discutindo justamente sobre a dieta do panda e os problemas relacionados a ela. Vocês podem conferir aqui 

O fato é que além de toda discussão científica o interesse pelos pandas parece ter cruzado a fronteira da biologia e invadido o cinema. Vide o bonitinho Kung Fu Panda 1, 2, 3, 432,.... (Ufa!)

Mas existe outro filme mais ácido sobre os pandas. É uma animação Eslováquia e Tcheca que reflete toda essa discussão científica sobre sua dieta, sua sexualidade e avança em uma crítica à nossa relação com esses animais símbolo e como eles se tornam um produto rentável e acabam perdendo sua dimensão biológica. 

Deixo o link e a sugestão. Atenção: apresenta cenas "fortes"!

Panda
Direção: Matus Vizar. Animação. Anim. Eslováquia, República Tcheca
Sinopse: O mundo muda cada vez mais rápido, e os humanos ocupam cada vez mais espaço sem pensarem nas conseqüências. Os pandas se encontram no meio de um jogo, onde comércio e puro deleite voyeurístico são postos lado a lado com a necessidade de preservação.



domingo, 26 de abril de 2015

Aranhas mascaradas

É incrível como algumas vezes a natureza pode surpreender por seu compasso tão preciso com a cultura. Ou seria o contrário? Enfim...
Digo isso, pois há algum tempo eu descobri as pequenas aranhas do gênero Maratus e fiquei fascinado por elas. Vulgarmente chamadas de Peacocks spiders (aranhas-pavão), esse gênero de aranhas saltitantes foi descrito já há bastante tempo, em 1878 por Ferdinand Anton Franz Karsch, um entomologista e aracnologista alemão. Porém, somente na década de 1950 as primeiras espécies do gênero foram descritas de forma mais consistente por Dunn (1957). Todas elas presentes na Austrália.
O gênero Maratus apresenta aproximadamente 30 espécies de aranhas descritas até o momento. Elas são pequenas (machos têm entre 2 e 8 mm) e apresentam uma grande capacidade de saltar (estão na família Salticidae), mas com certeza essas não são as características mais fantásticas que elas apresentam. Se você tem pavor de aranhas, fique tranquilo! Talvez depois de conhecer as Peacock spiders você se cure definitivamente e isso por diversas razões.
 
 
Preparem-se! Aqui eu faço um grande parênteses e lanço um salto gigantesco como uma Peacock Spider para deixá-los ainda mais curiosos, para escrever um pouco sobre as máscaras! A relação entre o ser humano e as máscaras é muito longa. Existem exemplares de máscaras antropomórficas encontradas na região do Oriente Médio com mais de 9 mil anos! Com variados usos na história, as máscaras sempre trazem uma relação com a possibilidade de exercitar a imaginação e o simbolismo. De adentrar em um universo oculto e inacessível pela experiência cotidiana com o mundo e com os outros. Octávio Paz, poeta e intelectual mexicano, diz que “Enquanto estamos vivos, não podemos escapar de máscaras e nomes. Somos inseparáveis de nossas ficções – nossas feições”. O fato é que a pluralidade do uso das máscaras em diferentes épocas e em distintas sociedades remete ao caráter transformatório que elas evocam. Sejam elas usadas para rituais religiosos, mágicos, artísticos, lúdicos, etc...
Podemos dizer que praticamente todas as culturas humanas apresentam, em algum aspecto uma relação com o mascaramento. Porém, não vou me aprofundar nessa questão muito interessante por sinal, mas somente enfatizar um pouco sobre as máscaras rituais utilizadas por alguns grupos étnicos na Oceania.
 
Para diversas sociedades nativas, a violência da natureza e as doenças súbitas, por exemplo, são as forças que precisam ser apaziguadas e elas se misturam nas mentes nativas com ideias sobrenaturais. O céu e deus, a chuva e divindades são diferentes aspectos da mesma coisa. Para apaziguar esses deuses é que são realizados rituais são realizados. Ou seja, as cerimônias são um aspecto essencial de suas vidas. Uma saída espetacular para emoções intensas. Nas cerimônias, as máscaras são apetrechos fundamentais e estes objetos refletem a preocupação dos nativos com o dramático. Eles infundem em um objeto atemorizante seu próprio sentimento de terror e sua inadequação em face das forças naturais. É uma aparição quimérica tornada real por meio da arte.
Abaixo segue uma relação imagética de diversas máscaras rituais de diferentes grupos étnicos Polinésios, além de um vídeo mostrando um ritual que utiliza as máscaras.
 
Máscara Tatanua. Nova Irlanda. Madeira, casca, cal e fibras.
Essa máscara era usada em cerimônias funerais chamadas de Malagan.
Para as pessoas Abelam, muitos aspectos da vida giram em torno do cultivo de inhames, cerimônias e festivais associados. As máscaras são parte integrante desses eventos. Esta máscara tumbuan era parte de um traje completa de dança e provavelmente foi usada em um festival de inhame quando coletada durante uma expedição do Museu Australiano em 1964 no  Rio Sepik. Bastão de junco e pigmentos naturais.

Enquanto alguns tipos de máscara eram sagrados, outros, como essa máscara eharo, foram criados principalmente para diversão. Para o povo Elema, os eharo eram "MAEA morava eharu" ("coisas de alegria"), e se dançavam como um prelúdio para rituais mais sagrados. Eharo representam seres sobrenaturais, bem como figuras humorísticas. Material:casca deárvore,  junco revestido e pintado. Metropolitan Museum of Art. 1972.

Esta máscara de dança foi usado por um jovem durante uma cerimônia de iniciação de adultos (kaiva kuku). Tais máscaras foram geralmente queimado após a cerimônia.
Máscara de forma cónica; branca. 1913. Cabeça antropomórfica com olhos proeminentes e boca aberta; parte detrás da cabeça decorada com um círculo vermelho. dois braços salientes nos lados, dobrados nos cotovelos, com as mãos de cinco dedos. Museu Australiano.

Representantes dos Elema utilizando asmáscaras Hevehe e caminhando em direção à casa Eravo. Essa casa era usada somente pelos hmens para discussões políticas e rituais. Baia Orokolo, Papua Nova Guiné.
 
Dança do Fogo no Festival de Máscaras em Rabaul, Papua Nova Guiné.
 
Maratus madelineae macho. Foto de Jürgen C. Otto.
Finalmente agora podemos voltar às aranhas Ufffff, quase esqueci delas nessa viagem toda com máscaras e aranhas? Para tentar relacionar as coisas. Outra característica interessantíssima das aranhas do gênero Maratus, é a morfologia do abdômen (opistossoma) no corpo dos machos. Em quase todas as espécies, os machos apresentam um abdômen extremamente colorido e com padrões de coloração muito intensos. Essas cores são o resultado de escamas iridescentes que refletem a luz (tanto a visível, quanto a luz ultravioleta) e se relacionam com o comportamento de corte realizado pelos machos.
 
 
 
Close na carona da Maratus jactatus evidenciando seus vários
olhinhos e seus palpos peludos. Foto: Jürgen C. Otto.
Outra questão muito interessante é que em nenhuma espécie o padrão de cores dessas escamas se repete. É um padrão único e extremamente sofisticado de cada uma dessas espécies. Em alguns casos são padrões impressionantes! Em um artigo de março de 2015, Jürgen C. Otto, grande entomologista responsável por dar visibilidade às Peacock Spiders, descreve, por exemplo, a Maratus elephans. Uma espécie recém-descoberta e descrita do gênero Maratus. Mas e esse nome... Maratus elephans? Não lembra elefante? Pois então... Nós não estávamos falando de aranhas? Sim.... Estou confuso!
Háááá, não se preocupe. Realmente Maratus elephans refere-se a elefante, como sugere Jürgen em seu artigo:
 
 

O nome específico do grupo (elephans, Latim, a partir do ἐλέφας grego antigo, substantivo em aposição ao nome do gênero, Tradução Português elefante) refere-se à semelhança entre o padrão sobre a lâmina superior do opistossoma de machos adultos desta espécie e a cabeça de um elefante visto de frente.
Olha só o retrato dela:
 
Maratus elephans macho em comportamento de corte. Opistossoma e terceiro par de patas erguidos. Possível visualizar os palpos e alguns de seus olhos de elefante, quer dizer, aranha. Foto: Jürgen C. Otto.
 
Pois bem, no momento em que encontram as fêmeas, os machos levantam seu opistossoma e seu terceiro par de patas e iniciam um comportamento de corte muito interessante com movimentos repetitivos e muito intensos. Em algumas espécies os movimentos são laterais. Em outras envolve giros completos de 360º ao redor do próprio corpo. Existem outras que movimentam também horizontalmente o terceiro par de patas enquanto movem o corpo e o opistossoma. Enfim, é uma grande coreografia extremamente sofisticada com o único e exclusivo objetivo de reproduzir-se. Passar seus genes para a geração seguinte e perpetuar a espécie.
É aqui! Exatamente nesse espaço-tempo que as duas histórias se cruzam: as Peacock Spiders encontram as máscaras! Mas como? Por quê? Onde?
Mais um háááá! Uma das 30 espécies de Peacock, a Maratus speciosus, apresenta uma característica muito interessante. Assim como as outras espécies, seu opistossoma também exibe um padrão único e com escamas iridescentes, porém, seu padrão de coloração assemelha-se muito a uma máscara humana.  Uma máscara antropomórfica. Exatamente como as máscaras usadas nas tradicionais cerimônias e rituais Polinésios.
 
Maratus speciosus. A verdadeira aranha mascarada em ritual de corte. Acaso?
 
No belíssimo vídeo abaixo vocês podem ver a Maratus speciosus em sua dança ritualística típica. A aranha polinésia, mascarada e que traduz em seu corpo os hábitos culturais de diversos grupos étnicos humanos desde há muitos séculos, ou até mesmo milênios.
 

Aqui a biologia encontra a cultura. Encontro inevitável que muitas vezes deixamos passar desapercebido e que se reflete em tudo. Nossas tradições culturais e a diversidade étnica que nos constitui é, continuamente, atravessada pela natureza em suas mais diversas expressões. Aprender a enxergar essa relação é algo que promove uma reconexão necessária com o que em nós é animalidade e persiste e, sempre persistirá.

Referências:

Flickr de Jürgen C. Otto com milhares de fotos das Peacock Spiders: https://www.flickr.com/photos/59431731@N05/

Página do facebook sobre as Peacock Spiders:
https://www.facebook.com/PeacockSpider?ref=ts&fref=ts

Natali Anderson, 2015. Two New Species of Peacock Spiders Discovered in Austrália

OTTO, J; HILL, D. An illustrated review of the known peacock spiders of the genus  Maratus from Australia, with description of a new specie. Peckhamia 96.1, 2011.

OTTO, J; HILL, D. Notes on Maratus Karsch 1878 and related jumping spiders from Australia, with five new species (Araneae: Salticidae: Euophryinae). Peckhamia 103.1, 2012.

OTTO, J; HILL, D. Maratus elephans, a new member of the volans group from New South Wales. Peckhamia 123.1, 2015.

DUNN, R. A.  1957.The Peacock Spider.  Walkabout, 1957.

Sketchs of Maratus

Maratus

Australian Museum: Natural Culture Discover

KAEPPLER, A. Ceremonialmasks: a melanesian art style. JPS, 1963.

The Flourishing os Island Cultures: The Art of Oceania

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Vamos de Copinho?

Na segunda fase estamos trabalho com fisiologia do sistema reprodutor, processos reprodutivos, gametogênese, etc...
 
Foi então que lembrei do copinho! Não sou mulher, mas já ouvi várias mulheres falando do "incômodo" que é lidar com o fluxo menstrual durante os terríveis dias em que seus endométrios estão descamando compulsivamente.
 
Aí me deparei em algum lugar com essa publicação:
 
 
E achei bem bacana! Inclusive porque há alguns dias vi o vídeo aí embaixo da JoutJout (pra quem não conhece valeu muito a pena!!! Ela é muito engraçada. Mesmo!) e já tinha pensado em postar pra vocês aqui. Mas a publicação da Bárbara Gondar está bem bacana e no fim de seu artigo ela também usa o vídeo da JoutJout!! Claro que existem os poréns... Para usar o copinho a mulher precisa manter uma higiene constante e tomar cuidado para evitar a possibilidade de infecções, mas certamente me parece uma grande revolução!
 
Espero que gostem e mulheres... Que tal experimentar o tal copinho? Juro que se eu menstruasse eu experimentaria! =]
 
 
 
 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

CTNBio aprova comercialização de eucalipto transgênico

Pessoal,
 
Mais uma notícia preocupante e crítica para os rumos ambientais do nosso país...Foi aprovada hoje pela CNTBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) a liberação comercial do eucalipto transgênico. Para quem não conhece, o eucalipto é uma árvore exótica, ou seja, não faz parte da nossa flora nativa. Ela é originária da Austrália e começou a ser introduzida no Brasil ainda no século XIX (1848).
 
Reflorestamento de eucalipto em Mogi das Cruzes,SP.
Plantações como essa são chamadas de desertos verdes,
pois embora sejam florestas, não apresentam quase nenhuma
biodiversidade ou capacidade de manutenção ecológica...
 
 
Hoje, o eucalipto é uma das principais monoculturas presentes no Brasil (junto com soja, cana-de-açúcar, milho, pinus...) ocupando uma área de mais de 5 milhões de hectares em franca ampliação, principalmente no Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. A madeira do eucalipto é muito usada para fabricação de papel, indústria moveleira, de construção civil, produção de carvão vegetal, entre outras. Sendo as principais empresas relacionadas ao plantio de Eucalipto a Aracruz Celulose, Suzano Celulose e Arcelor Mittal.
 
Embora a utilização da madeira proveniente do reflorestamento seja necessária, é fato que a forma com que é feito o manejo das áreas plantadas traz inúmeras consequências para a flora e fauna nativa e até mesmo para pequenos produtores rurais.
 
O eucalipto é uma árvore de rápido crescimento e que se for plantada sem os devidos cuidados pode trazer problemas sérios para o ambiente como: erosão, empobrecimento do solo e grande utilização de água.
 
A aprovação da liberação para comercial do eucalipto transgênico é algo extremamente preocupante por diversos motivos. A liberação foi solicitada pela FuturaGene Brasil Tecnologia Ltda, empresa de biotecnologia da Suzano Papel e Celulose. De acordo com nota divulgada pelo órgão, foram 18 votos a favor e 3 contra. A espécie liberada é a Eucalyptus spp L., contendo um gene da planta Arabidopsis thaliana.
 
 
O Brasil é o primeiro país do mundo a liberar o eucalipto geneticamente modificado. Segundo os técnicos da FuturaGene, o eucalipto modificado tem 20% mais de produtividade e poderá ser usado na produção de madeira, papel, entre outros itens. Porém, a que custo? Os estudos realizados para a liberação do plantio do eucalipto ainda são um tanto obscuros... Embora a empresa tenha feito estudos sobre o desenvolvimento dos eucaliptos transgênicos e tentado projetar as consequências de seu uso, é muito difícil supor como ele se comportará no ambiente, pois árvores são organismos que apresentam um ciclo e vida longo (no caso das espécies transgênicas de eucalipto, pelo menos 5 anos....).
 
Enfim, vale dar uma lida nos materiais que deixarei aqui disponíveis para se informar sobre a questão e pensar... quais os reais interesses nessa liberação e a quem realmente isso interessa?
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 31 de março de 2015

Projeto sobre recursos genéticos é aprovado na Câmara dos Deputados

Pois é pessoal...

É de conhecimento de muitos que o Brasil é o país com a maior biodiversidade no planeta. Isso, é claro desperta o interesse de grandes grupos que buscam, continuamente, extrair de nossas fronteiras substâncias que possam ser utilizadas no desenvolvimento de diversos produtos (cosméticos, alimentícios, medicamentos, etc, etc e etc...).
 
Esse é mais um exemplo de como ainda estamos negligenciando uma "riqueza" que já no presente, e ainda mais no futuro, pode ser determinante para a soberania de nosso país. E quando surgem situações como essa é inevitável ficarmos preocupados com os rumos ambientais que estamos seguindo, por conta de decisões políticas muitas vezes determinadas por interesses exclusivamente pessoais.

 
 
Esse é o caso do novo projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados e que agora segue para o Senado Federal. O projeto, encaminhado pelo Deputado Alceu Moreira (PMDB/RS), pretende facilitar o acesso de pesquisadores e indústrias aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade e à agrobiodiversidade. 
 
Ou seja, comunidades tradicionais e indígenas que há muito tempo detém conhecimentos tradicionais sobre o uso de determinadas substâncias e organismos estão sendo desrespeitados e roubados de forma desleal por essa proposta. Mais do que isso, a votação do projeto abre uma brecha legal que permite, aos poucos, que a biopirataria e a introdução de espécies exóticas torne-se muito mais fácil e - de certa forma - legal. O que seria desastroso para a soberania nacional. Além disso, em alguns pontos o projeto vai contra o Protocolo de Nagoya (um acordo internacional que foi criado e regulamenta o acesso aos recursos genéticos e o compartilhamento de benefícios da biodiversidade) que o Brasil ainda não ratificou!! Importante destacar que sem ratificar o protocolo e com esse projeto sendo encaminhado assim, facilita-se muito que casos de biopirataria possam continuar acontecendo e expatriando recursos genéticos e ambientais que são brasileiros. Tornado-os inacessíveis a nós mesmo e mais, àqueles que necessitam desses recursos para viver.

Diversos casos de biopirataria envolvendo espécies brasileiras já foram relatados e alguns ainda seguem em disputa judicial. Porém, quando a questão se internacionaliza, torna-se mais difícil um resultado em favor de uma espécie, de uma comunidade tradicional ou de um grupo indígena. São os vetores de força que condicionam a relação desigual entre diferentes grupos na lógica global que vivemos....

É fundamental acompanharmos essas discussões que direcionam os rumos de grandes bens ambientais  e culturais que temos e que estão, nesse momento, criticamente ameaçados por interesses de:
- Grandes empresas multinacionais que pretendem em uma política desleal, explorar grupos étnicos mais frágeis e incapazes de lutar com as mesmas armas;
- Produtores rurais que pretendem explorer mais e mais os recursos de nossa terra apropriando-se dela para constituição de grandes desertos verdes, pobres em biodiversidade e capacidade de manutenção da vida;
- Políticos vendidos que somente veem o poder à sua frente e usam da democracia em que vivemos como meio conveniente para agir de forma pessoal e desrespeitosa.

Enfim....
 
Nesses outros links abaixo estão alguns textos sobre o Projeto de Lei e o que ele traz como consequência:
 
 
 
 


Vamos nos informar e nos posicionar pessoal!!
 
 

sábado, 28 de março de 2015

Os desaparecidos do Antropoceno

E se pudéssemos olhar para os processos de extinção pelos olhos da animalidade? Como seria? Como os últimos representantes de uma espécie sentiriam seu fatal desaparecimento?
Com as turmas da terceira fase, estamos discutindo sobre a classificação biológica, extinção, especiação, evolução...
Eis que leio o texto de Juliana Fausto, "Os desaparecidos do Antropoceno" que foi base de sua fala no Colóquio "Os Mil Nomes de Gaia - do Antropoceno àIdade da Terra​".

Belíssimo texto. Potencializando uma discussão fundamental. Por um lado o Antropoceno enquanto período ainda indecifrável e com a força do passado-presente-futuro que nos move, junto ao planeta, para algo ainda desconhecido, mas já sombrio. E por outro, os processos que tornam nossa relação com esse mesmo planeta e os seres que o compartilham conosco algo fantasioso e com requintes de ficção científica.

Juliana discute, por exemplo, sobre os eventos que tentam trazer de volta seres extintos. No mais audacioso processo à la Jurassic Park. Reestabelecer animais e indivíduos já desaparecidos, como se o mundo que os excluiu pudesse novamente recebê-los de braços abertos, arrependido e envergonhado... Ou as situações que tornam alguns desses animais, entidades mortas-vivas (pois estão em processo de desaparecimento, embora ainda existam em cativeiros pelo mundo afora...). Espécies zumbis, como os seriados que vocês assistem e que parecem cada vez mais se tornarem comuns. Prenhas de uma vida transitória e fadada ao quase-fim. Ela fala também sobre os animais que já se tornaram pedra. Fósseis. Enrijeceram no passado-presente apocalíptico que nos enreda a todos..... Nosso tempo atual tornou-se especialista em produzir seres de pedra. Fósseis.

No meio de tudo vejo a Biologia e o que vínhamos trabalhando. Com seus conceitos, suas definições e noções que tentam balizar esses processos contínuos.

O que significa a ciência sem sua dimensão social, política e filosófica? O texto de Juliana discute essa relação.  Juscelinomys candango. O rato, endêmico da região de Brasília e descoberto quando se construía a cidade, foi dizimado. Uma espécie, de um gênero ainda desconhecido até então, dizimada pelo desenvolvimentismo. Ao preço da construção de uma política de Estado, um ser desaparece do planeta. Hoje, o rato que pela nomenclatura popular passou a ser chamado de candango, existe estático no Museu Nacional da UFRJ. As entranhas tornadas enchimento de capim. Os olhos de vidro, a expressão ausente e a etiqueta classificatória presa ao rabo, endurecido pelo tempo.
Aqui jaz: Juscelinomys candango
Eis que a frase mais emblemática de seu texto martela em minha cabeça:
"O mundo, em uma palavra, empobrece a cada extinção."
Uma fatia do mundo desaparece com os seres que nela habitavam. O mundo perde sua densidade, sua força.

Não, não haverá mais aquele canto.
Não, não existe mais aquela mordida fatal.
Não, aquele gesto de coletar frutos deixou de existir.
Não, não existe mais.
Desculpe, não.
Passou.
O mundo torna-se menor e menor. Mais simples, mais pragmático, mais desenvolvido. Mais. Vazio.

Post-scriptum:

Em uma caminhada despropistal pelos labirintos da rede, eis que encontro um blog e, nele, um texto sobre o "Homem enquanto animal doente", baseado no obra do filósofo Friederich Nietzsche. Um trecho me trouxe de volt apara esse p.s.:

Além disso, o homem é um animal doente, “o mais prolongada e profundamente doente entre todos os animais porque é também o animal não fixado, sendo assim o grande experimentador consigo mesmo. Essa autoexperimentação – que acarreta a instabilidade, a flexibilidade, a mutabilidade e insegurança – pressupõe mal-estar, sofrimento, insatisfação, ânsia, insaciedade permanente, mas também desafio e combate, repto lançado ao destino, disputa por domínio sobre animais, natureza e deuses (também e sobretudo sobre si mesmo)”.


 

quinta-feira, 19 de março de 2015

Maconha Yang... Yin...

Pessoal,

Eu comentei com alguns de vocês que iria fazer uma nova postagem abordando mais uma vez a questão da maconha.

Há algum tempo já fiz uma publicação aqui discutindo sobre a questão da legalização do uso da maconha que gerou um debate muito rico, com vários posicionamentos e discussões. Como já se passaram alguns anos daquela publicação, decidi abrir um novo espaço sobre isso, pois li uma notícia bem interessante sobre os usos medicinais da maconha que estão sendo feitos atualmente.

Inicialmente gostaria de falar sobre o título da postagem: yang e yin.


Acredito que a maioria de vocês já tenha ouvido falar, mas poucos devem saber que esses termos são conceitos básicos de uma tradição filosófica e religiosa muito antiga da China: o taoísmo. Para o taoísmo, precisamos exercer nossa vida em harmonia com o Tao (que poderíamos pensar como o caminho, a fonte, a força que movimenta tudo que existe. Para encontrar o Tao é fundamental compreender o caminho e mais. Saber que o no caminho existe o yang e yin, ou seja a dualidade. Algumas das associações comuns com yang e yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e passivo, movimento e quietude. Os taoistas acreditam que nenhum dos dois é mais importante ou melhor que o outro. Na verdade, nenhum pode existir sem o outro, porque eles são aspectos equiparados do todo. Muito bem, agora que isso já está explicado vamos à Canabis!

Primeiramente, gostaria de fazer um exercícios de distanciamento. Uma das dificuldades em discutir a questão da maconha é pela forma como ela se apresenta hoje, em nossa sociedade ocidental, contemporânea. Hoje a maconha é um produto como qualquer outro dentro da lógica capitalista em que vivemos. Ou seja, ela padece das mesmas leis de oferta e procura. Para quem vende, é interessante que o mercado exista e seja grande. Para quem consome, é interessante um custo acessível e um produto de qualidade.

Quando vemos o anúncio de um produto na televisão ou internet, estamos sendo bombardeados pela publicidade que tenta nos convencer, a todo custo, que devemos consumir determinado produto. Com as drogas o princípio é o mesmo. Porém, como elas não usufruem de um espaço midiático legal, elas necessitam de outras formas para convencer os consumidores da necessidade de seu uso. Ou seja, continuamente se desenvolvem drogas com princípios ativos mais fortes e com mais capacidade de criar dependência para que o mercado continue aquecido. 

Voltando à maconha, é fato que a relação entre ela e o ser humano é antiga. Remonta há mais de 6000 anos, na Ásia, quando já se usava a Cannabis sativa principalmente para extração das fibras (o cânhamo) para a produção de cordas, papéis, fios, etc. 

Plantação de Cannabis para retirada de fibras do cânhamo (à direita)
Além desse uso, na China, há mais de 2000 anos a maconha já era usada com fins medicinais (os chineses descreveram os potenciais terapêuticos desta planta no Pen-Ts'ao Ching, considerada a primeira farmacopeia conhecida do mundo), como anticonvulsionante, tranquilizante e analgésico. Também na Índia, a erva já há milênios é parte integral da medicina ayurvédica, usada no tratamento de dezenas de doenças. Sem falar que ela ocupa um lugar de destaque na religião hindu. Pela mitologia, maconha era a comida favorita do deus Shiva. Da mesma forma, alguns grupos budistas e árabes faziam uso da Cannabis como psicoativo. Historicamente, então, a maconha está enraizada ao desenvolvimento  sociocultural do ser humano. Assim como o tabaco, o álcool e várias outras subtâncias psicoativas.

Porém, é fundamental fazer uma distinção, nesse cenário histórico-antropológico e sociológico, entre o uso da Canabis no passado e como hoje ela se vincula à sociedade contemporânea em que vivemos. Argumentar que, pelo fato de Canabis estar vinculada ao ser humano há tempos e ter seu uso extremamente vinculado ao desenvolvimento cultural da humanidade não existem problemas em relação a ela é, no mínimo, ser reducionista e superficial.

E aí volto ao que escrevi anteriormente. Toda a histórica relação entre ser humano e Canabis é inquestionável. Porém, precisamos entender que hoje vivemos em uma sociedade essencialmente capitalista, que apresenta diferentes aspectos culturais, anseios, desejos e comportamentos. Somos diferentes. Hoje a Canabis se tornou um produto, cujo consume, produção e venda seguem as leis do mercado que a tudo produtifica.

Inclusive, biologicamente ela também mudou. A maconha produzida e vendida hoje é uma variedade completamente diferente daquela que se usava na antiguidade. Hoje já existem variedades com uma quantidade muito maior de THC (Skunk, por exemplo). Melhoramentos genéticos para fazê-la ser ainda mais forte e intensa. Alo-ouuu, isso também responde ao mercado... Quanto mais forte a variedade, maior a intensidade dos resultados.... Como diz Criolo, ironicamente em sua música "Convoque seu Buda": "se a maconha for da boa que se foda a ideologia...".

Eu quis construir todo esse panorama argumentativo para entrar de fato na questão principal que é compartilhar uma notícia que li há alguns dias e fala sobre os benefícios e malefícios da maconha. Vocês vão perceber que no texto surgem pontos que trago aqui...

Segue nesse link: Como a ciência busca o equilíbrio da "boa maconha"

Gostei bastante dessa notícia porque ela não é fatalista. Não diz, por exemplo, que a maconha é, somente, terrível, mas também não diz que a maconha é, somente, inofensiva. Enfatiza seu uso medicinal (Os chineses já sabiam né?) e como um dos seus princípios ativos, o canabidiol, tem uma função extremamernte importante em relação a algumas doenças genéticas. Mas também questiona os problemas das variantes melhoradas e de seu perigo no desenvolvimento de síndromes psicóticas.

Isso é  yin e yang!!

E eu penso que isso é justamente o que falta quando nos posicionamos e discutimos sobre drogas: o meio-termo. O ponto que permita não ver as coisas tão deterministas assim: certo - errado. Bom - ruim. Benéfico - Prejudicial. Esse limite não existe. Não há uma resposta.  O que existe são indícios, possibilidades, caminhos. Buscar um ponto definitivo nos paralisa.

Precisamos compreender que não existe uma verdade, uma resposta. Existe sim, a necessidade de termos responsabilidade com nosso corpo, cuidado com nossas limitações e respeito com nossa vida.

Fica a dica! E um video muito bacana que vi esses dias e representa muito bem a questão do vício. Talvez seja um ponto interessante para finalizar minha postagem:



Referências:

Maconha: uma perspectiva histórica, farmacológica e antropológica.

Uso de maconha na adolescência e risco de esquizofrenia

quarta-feira, 11 de março de 2015

Adeus caixões?

Pessoal,

Com a Segunda Fase estamos discutindo sobre divisão celular, gametogênese, etc... Em determinado momento conversamos a ideia de que a vida é um ciclo contínuo. Eterno retorno. Nascemos, crescemos e morremos,mas aquilo que nos constitui serve de elemento para que outras vidas também possam constituir-se. Esses três pequenos vídeos mostram um pouco disso:

Daniel Csobot - Macro Time Lapse
Sam Taylor-Wood - A Little Death
Emma Allen - Ruby


Aí, a Laura, da turma 222 encontrou essa notícia e me mandou. Resolvi postar aqui e abrir a discussão. O que acham da proposta? Será que uma coisa assim funciona?

Notícia: cápsula orgânica transforma pessoas falecidas em árvores...


Quando li a notícia comecei a pensar sobre a questão da morte e de nosso comportamento em relação a ela... Culturalmente a morte pode significar muitas coisas para o ser humano. Cada cultura, em cada local do planeta, tem um entendimento sobre a morte e uma maneira de relacionar-se com ela. Para a antropologia, as tradições culturais relacionadas à morte são como aquelas relacionadas ao nascimento. Ou seja, assim como quando um bebê nasce, ele ganha um nome, e existem tradições que determinam o nascimento daquele indivíduo na cultura, um morto só se torna de fato um morto quando passa pelos rituais específicos da cultura.

Uma definição bacana de ritual está expressa nas palavras da antropóloga Mariza Pereiano:
 O ritual é um sistema cultural de comunicação simbólica. Ele é constituído de sequências ordenadas e padronizadas de palavras e atos, em geral expressos por múltiplos meios. Estas sequências têm conteúdo e arranjos caracterizados por graus variados de formalidade (convencionalidade), estereotipia(rigidez), condensação (fusão) e redundância (repetição).
Existem rituais que, para nós, podem parecer tenebrosos.

Mulher Ianomâmi.
O primeiro exemplo que trago é dos povos Ameríndios da América do Sul (Ianomâmis que vivem na Amazônia venezuelana). 

Para esse povo, a morte de um parente é ocasionada a ação de xamãs e demônios. Nesse caso, logo após a morte o corpo é cremado. As cinzas e ossos resultantes são guardados e depois de um tempo são incorporadas a uma sopa de bananas que o grupo familiar do morto come. 


Ritual Ianomâmi.

Com isso eles acreditam que estariam absorvendo a energia vital do morto. A prática é chamada de endocanibalismo.   









Representação de um Jhator.
Entre os tibetanos, em sua maioria budista, existia um costume chamado de "jhator". Ele era um hábito funerário tibetano, em que partes específicas do cadáver eram dissecadas e depositadas no alto de uma montanha para sofrer a ação da natureza, sobretudo das aves de rapina. 

Lembrando que para o budismo, após a morte, a alma segue viva e torna a reencarnar. Nesse caso, o corpo é somente uma casca vazia que nada mais significa. 

Aves saprófitas se alimentando de
cadáver humano em um Jhator.

A religião zoroastrista foi criada na antiga Pérsia (onde hoje se localiza o Irã pelo profeta Zaratustra ou Zoroastro. Hoje ela é professada em regiões do Irã e Iraque. 

Para o Zoroastrismo, o corpo de um cadáver é algo impuro, e para não violar a sacramentalidade da terra, recusam-se a enterrar ou cremar um corpo. 




Torre do Silêncio vista de longe.
Torre do Silêncio vista de cima. Na cavidade eram
depositados os cadáver.

Em vez disso, depositam o defunto no alto de uma construção nas montanhas, onde os abutres vêm e devoram sua carne, após o que são exumados os ossos, e depois disso jogados num curso d'água para seguir direto em direção ao mar,
não tocando assim o solo. Essas construções nas montanhas são chamadas Torres do Silêncio. 






Imagem de uma necrópole romana com suas tumbas.
Os antigos romanos (possivelmente tendo capturado essa tradição dos egípcios) costumavam criar
Necrópole romana localizada no subsolo da Basílica de São Pedro
no Vaticano. No detalhe, uma urna funerária.
suas necrópoles de forma que a família pudesse ter acesso ao local onde o morte estava enterrado em urnas. Isso porque eles acreditavam que o morto necessitava seguir os hábitos de quando estava vivo, assim, os parentes levavam mel, vinho e outros alimentos, até a tumba na crença de alimentarem a alma do falecido. Também era comum a realização de jantares ao redor do túmulo.

"Cemitério" aborígene na Austrália.
Para algumas tribos de aborígenes da Oceania, a tradição manda que o corpo seja depositado em plataformas construídas com galhos para que possam coletar os líquidos produzidos pela decomposição. Os ossos são pintados e transportados pela família, e os jovens usam os líquidos para pintar o rosto e o tronco, na crença de que assim absorverão as virtudes do morto.

Os Toraja são uma tribo de uma região montanhosa da Indonésia. Para eles, a morte é uma celebração complexa que tem uma preparação de quase 2 meses e exige uma grande quantidade de riqueza para ser realizada. Muitas famílias pobres chegam a arruinar-se financeiramente durante gerações para realizar o ritual para algum parente morto. 




Tongkonan, casa típica Toraja.





 Ele se baseia em uma preparação do cadáver durante os 2 meses. A família deve construir uma casa típica (Tongkonan) para guardar as oferendas ao morto, oferecer banquetes aos convidados (às vezes quase 2 mil pessoas), construir uma escultura em tamanho natural do morto que tenta representá-lo fielmente (inclusive algumas vezes usa seus próprios cabelos). Além disso, no dia do enterro, o cadáver é levado todo ornamentado até o túmulo e, pelo caminho, são mortos inúmeros búfalos (quanto mais búfalos a família puder mandar matar, mais rápido será a chegada da alma do defunto, montada nos búfalos até Puya - região sagrada) . O sangue desses animais é coletado em tubos de bambu por crianças durante o percurso do cadáver até o túmulo. Ufa....

Detalhe dos chifres de búfalo na entrada de
uma Tongkonan usada para depositar as
oferendas a um defunto.
No final de tudo podemos pensar que nossa tradição cultural de enterrar os mortos nos cemitérios, em suas lápides finamente ornamentadas com mármore e granito, embora possa causar uma série de danos ambientais e consequências problemáticas pelo espaço, etc, também é um ritual que está muito bem enraizado em nossa cultura ocidental.... Assim, a ideia de propor que os mortos possam ser "plantados" é muito legal do ponto de vista ecológico (tornar a ciclagem dos nutrientes mais direta, usar a energia da matéria que nos constituía para nutrir uma árvore, enfim...), mas acredito que seja uma ideia um tanto difícil de se tornar comum, justamente pois esbarra em definições que há tempos nos acompanham. 


Detalhe da entrada do enorme cemitério Père-Lachaise, em Paris.
Lá estão sepultadas inúmeras personalidades.

Referências:

http://www.tanatopedia.net/index.php/Rito_funerario_Toraja

http://id.discoverybrasil.uol.com.br/estranhas-tradicoes-para-celebrar-a-morte/

http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/viewFile/560/518

http://en.wikipedia.org/wiki/Dakhma

http://pt.wikipedia.org/wiki/Zoroastrismo

https://www.youtube.com/watch?v=ZR8Z2Osk0dg