quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Calebração do corpo humano IV

Quando eu fiz a postagem anterior pensei "essa vai ser a última sobre a celebração do corpo humano...Vou propor outra coisa na sequência...". Mas a cada dia surgem coisas que se relacionam ao corpo e me deixam boquiaberto!! Então...  sigo na proposta de CELEBRAR O CORPO HUMANO!! =]

Abro um parênteses: se vocês quiserem propor alguma temática, ou algo que considerem interessante relacionando biologia e cultura e arte, sintam-se à vontade. Ou se estiverem gostando, expressem isso comentando aí, para eu saber que vocês estão acompanhando. Vamos dar vida a isso aqui?? =] Fecho o parênteses!

E é aí que eu me pergunto: e quando o corpo ganha novos sentidos e possibilidades somente servindo como muldura para pintura? Em tempos de manipulação de imagem no photoshop, de bundas perfeitas sem celulite de rostos inimaginavelmente sem rugas e sorissos brancos como a neve, é isso que a pintora japonese Choo-san propõe (no tumblr dela existem várias das pinturas e também alguns vídeos todos feitos com várias fotografias, sem o uso do photoshop). Usando somente tinta acrílica e maquiagem, ela cria verdadeiras obras-de-arte hiper-realistas em seu surrealismo sobre seu próprio corpo e de vários modelos.




É incrível como as pinturas são reais e criam verdadeiros mundos em corpos humanos. São corpos que passam a ser habitados por outros seres. Corpos que se tornam somente vestimentas quando ganham zíperes. Corpos que viram autômatos ao ganharem botões, tomadas elétricas e  Corpos que se tornam translúcidos quando permitem ver seus órgãos internos. Ou que se tornam desfigurados ao ganhar mais uma boca, mais dois olhos, etc...

Na filosofia contemporânea existe um conceito: simulacro. Eis sua definição:

O simulacro implica grandes dimensões, profundidades e distâncias que o observador não pode dominar. É porque não as domina que ele experimenta uma impressão de semelhança. O simulacro inclui em si o ponto de vista diferencial; o observador faz parte do próprio simulacro, que se transforma e se deforma com seu ponto de vista (DELEUZE, 1969, p. 264).

Essas pinturas poderiam ser definidas como simulacros de corpos humanos. Corpos humanos que se deformam, que trazem uma impressão de semelhança, mas que têm em si algo que é um diferencial significativo que não podemos dominar.Entende-se um zíper na pele humana? Esse conceito remonta à Antiguidade e vem desde Platão, mas isso é outra história...






Enfim, são corpos que se tornam múltiplos,se abrem em estranhas mutações ocasioandas somente pela precisão de uma artista muito criativa. 

Isso me leva a dois questionamentos:

Primeiro: no que gostaríamos que nossos corpos se transformassem se pudéssemos fazê-lo se tornar alguma dessas ousadas criações?

Segunda: O quanto o uso de ferramentas de edição e manipulação de imagens realmente nos aproxima da criatividade ou só nos faz pasteurizar e homogeneizar mais ainda a arte e as possibilidades de expressão que existem...

Ficam as questões vibrando em corpos surreais hiper-reais... =]

Referência:

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1998. 342 p.