quinta-feira, 19 de março de 2015

Maconha Yang... Yin...

Pessoal,

Eu comentei com alguns de vocês que iria fazer uma nova postagem abordando mais uma vez a questão da maconha.

Há algum tempo já fiz uma publicação aqui discutindo sobre a questão da legalização do uso da maconha que gerou um debate muito rico, com vários posicionamentos e discussões. Como já se passaram alguns anos daquela publicação, decidi abrir um novo espaço sobre isso, pois li uma notícia bem interessante sobre os usos medicinais da maconha que estão sendo feitos atualmente.

Inicialmente gostaria de falar sobre o título da postagem: yang e yin.


Acredito que a maioria de vocês já tenha ouvido falar, mas poucos devem saber que esses termos são conceitos básicos de uma tradição filosófica e religiosa muito antiga da China: o taoísmo. Para o taoísmo, precisamos exercer nossa vida em harmonia com o Tao (que poderíamos pensar como o caminho, a fonte, a força que movimenta tudo que existe. Para encontrar o Tao é fundamental compreender o caminho e mais. Saber que o no caminho existe o yang e yin, ou seja a dualidade. Algumas das associações comuns com yang e yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e passivo, movimento e quietude. Os taoistas acreditam que nenhum dos dois é mais importante ou melhor que o outro. Na verdade, nenhum pode existir sem o outro, porque eles são aspectos equiparados do todo. Muito bem, agora que isso já está explicado vamos à Canabis!

Primeiramente, gostaria de fazer um exercícios de distanciamento. Uma das dificuldades em discutir a questão da maconha é pela forma como ela se apresenta hoje, em nossa sociedade ocidental, contemporânea. Hoje a maconha é um produto como qualquer outro dentro da lógica capitalista em que vivemos. Ou seja, ela padece das mesmas leis de oferta e procura. Para quem vende, é interessante que o mercado exista e seja grande. Para quem consome, é interessante um custo acessível e um produto de qualidade.

Quando vemos o anúncio de um produto na televisão ou internet, estamos sendo bombardeados pela publicidade que tenta nos convencer, a todo custo, que devemos consumir determinado produto. Com as drogas o princípio é o mesmo. Porém, como elas não usufruem de um espaço midiático legal, elas necessitam de outras formas para convencer os consumidores da necessidade de seu uso. Ou seja, continuamente se desenvolvem drogas com princípios ativos mais fortes e com mais capacidade de criar dependência para que o mercado continue aquecido. 

Voltando à maconha, é fato que a relação entre ela e o ser humano é antiga. Remonta há mais de 6000 anos, na Ásia, quando já se usava a Cannabis sativa principalmente para extração das fibras (o cânhamo) para a produção de cordas, papéis, fios, etc. 

Plantação de Cannabis para retirada de fibras do cânhamo (à direita)
Além desse uso, na China, há mais de 2000 anos a maconha já era usada com fins medicinais (os chineses descreveram os potenciais terapêuticos desta planta no Pen-Ts'ao Ching, considerada a primeira farmacopeia conhecida do mundo), como anticonvulsionante, tranquilizante e analgésico. Também na Índia, a erva já há milênios é parte integral da medicina ayurvédica, usada no tratamento de dezenas de doenças. Sem falar que ela ocupa um lugar de destaque na religião hindu. Pela mitologia, maconha era a comida favorita do deus Shiva. Da mesma forma, alguns grupos budistas e árabes faziam uso da Cannabis como psicoativo. Historicamente, então, a maconha está enraizada ao desenvolvimento  sociocultural do ser humano. Assim como o tabaco, o álcool e várias outras subtâncias psicoativas.

Porém, é fundamental fazer uma distinção, nesse cenário histórico-antropológico e sociológico, entre o uso da Canabis no passado e como hoje ela se vincula à sociedade contemporânea em que vivemos. Argumentar que, pelo fato de Canabis estar vinculada ao ser humano há tempos e ter seu uso extremamente vinculado ao desenvolvimento cultural da humanidade não existem problemas em relação a ela é, no mínimo, ser reducionista e superficial.

E aí volto ao que escrevi anteriormente. Toda a histórica relação entre ser humano e Canabis é inquestionável. Porém, precisamos entender que hoje vivemos em uma sociedade essencialmente capitalista, que apresenta diferentes aspectos culturais, anseios, desejos e comportamentos. Somos diferentes. Hoje a Canabis se tornou um produto, cujo consume, produção e venda seguem as leis do mercado que a tudo produtifica.

Inclusive, biologicamente ela também mudou. A maconha produzida e vendida hoje é uma variedade completamente diferente daquela que se usava na antiguidade. Hoje já existem variedades com uma quantidade muito maior de THC (Skunk, por exemplo). Melhoramentos genéticos para fazê-la ser ainda mais forte e intensa. Alo-ouuu, isso também responde ao mercado... Quanto mais forte a variedade, maior a intensidade dos resultados.... Como diz Criolo, ironicamente em sua música "Convoque seu Buda": "se a maconha for da boa que se foda a ideologia...".

Eu quis construir todo esse panorama argumentativo para entrar de fato na questão principal que é compartilhar uma notícia que li há alguns dias e fala sobre os benefícios e malefícios da maconha. Vocês vão perceber que no texto surgem pontos que trago aqui...

Segue nesse link: Como a ciência busca o equilíbrio da "boa maconha"

Gostei bastante dessa notícia porque ela não é fatalista. Não diz, por exemplo, que a maconha é, somente, terrível, mas também não diz que a maconha é, somente, inofensiva. Enfatiza seu uso medicinal (Os chineses já sabiam né?) e como um dos seus princípios ativos, o canabidiol, tem uma função extremamernte importante em relação a algumas doenças genéticas. Mas também questiona os problemas das variantes melhoradas e de seu perigo no desenvolvimento de síndromes psicóticas.

Isso é  yin e yang!!

E eu penso que isso é justamente o que falta quando nos posicionamos e discutimos sobre drogas: o meio-termo. O ponto que permita não ver as coisas tão deterministas assim: certo - errado. Bom - ruim. Benéfico - Prejudicial. Esse limite não existe. Não há uma resposta.  O que existe são indícios, possibilidades, caminhos. Buscar um ponto definitivo nos paralisa.

Precisamos compreender que não existe uma verdade, uma resposta. Existe sim, a necessidade de termos responsabilidade com nosso corpo, cuidado com nossas limitações e respeito com nossa vida.

Fica a dica! E um video muito bacana que vi esses dias e representa muito bem a questão do vício. Talvez seja um ponto interessante para finalizar minha postagem:



Referências:

Maconha: uma perspectiva histórica, farmacológica e antropológica.

Uso de maconha na adolescência e risco de esquizofrenia

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